domingo, 1 de novembro de 2020

JORGE VAI AO CINEMA – AS ESTREIAS DE OUTUBRO DE 2020


Mesmo com a ameaça real do Covid e as salas de cinema praticamente vazias, as estreias vão-se sucedendo e no mês de Outubro contei 24 novos filmes, dos quais vi apenas 10.

ANTEBELLUM de Gerard Bush & Christopher Renz – 7


Veronica é uma autora de sucesso e defensora dos direitos dos negros. Isso leva a que seja escolhido por uns racistas ricalhaços para a sua plantação de escravos. 

Mais drama que filme de terror, aqui os medos são reais e é chocante a forma como os negros são tratados nesta pseudo plantação. Claro que somos manipulados a estar do lado de Veronica e não há mal nenhum nisso. A história, com as suas reviravoltas, prende-nos ao écran e o clímax é eficaz. No papel de Veronica, Janelle Monâe revela-se uma excelente atriz e deu-me um enorme gozo odiar a personagem interpretada por Jena Malone. Nos tempos que correm, não me admirava que a história do filme pudesse ser uma assustadora realidade. 

 

AVA de Tate Taylor – 6


Ava é uma assassina profissional que começa a ser vista como um perigo para os seus chefes e passa a ser um alvo.

Oh pá, a grande Jessica Chastain farta-se de andar à porrada e é pior que o dum-dum a matar todos à sua volta. Dito isto, a verdade é que me diverti a ver este thriller de acção! Não trás nada de novo ao género, mas tem ritmo e suspense quanto baste. Claro que as cenas com a Joan Chen eram desnecessárias, mas não são nada chatas. 

No papel do mau da fita, o borracho do Colin Farrell está completamente “over-acting” e John Malkovich continua igual. Mas Chastain vale sempre a pena e adorei rever Geena Davis no cinema.

 

AS BRUXAS DE ROALD DAHL (The Witches) de Robert Zemeckis – 6


Um miúdo e a sua avó são obrigados a lutar contra um grupo de bruxas, cujo desejo é transformar todas as crianças em ratos. O problema maior é que entretanto o miúdo foi transformado num rato.

O filme original, datado de 1990, não teve direito a estreia nos nossos cinemas, tendo saído diretamente para o mercado do vídeo. Vi-o nessa altura e gostei, mas confesso que só me lembro de Angelica Huston como a líder das bruxas. Nesta nova versão, esse papel está a cargo de uma deliciosa Anne Hathaway, que se deve ter divertido imenso a fazer isto. Ela está bem acompanhada por Octavia Spencer e Stanley Tucci. 

Quanto ao filme, é uma fantasia bem-disposta que não pretende ser mais que isso. Só dispensava uma coisa, a irritante voz-off de Chris Rock como o narrador.

 

FANTASMAS DE GUERRA (Ghosts of War) de Eric Bress – 5


Perto do final da Segunda Guerra Mundial, um grupo de 5 soldados americanos são encarregues de defender e manter uma velha mansão. Só que para além de terem que se defender dos Nazis, têm que sobreviver às forças malignas que habitam a mansão.

Começa como filme de guerra, passa a filme de terror e termina como algo dentro do universo da ficção-científica... ou terá sido impressão minha? Não é um mau filme do género, mas dispensava o gore exagerado e um bocadinho mais de suspense podia fazer a diferença. Claro que tem uma mensagem moralista, não só sobre a guerra, mas principalmente sobre aquilo que às vezes devíamos fazer e, por egoísmo ou outra razão, não fazemos. O grupo de jovens actores que dão vida aos soldados, são simpáticos e giraços.

 

FARMING de Adewale Akinnuoyes-Agbaje – 6


Um miúdo negro é “farming” (uma espécie de adopção, em que um casal fica responsável por uma criança por um determinado período de tempo, recebendo por isso um subsídio do governo) por um casal inglês de classe pobre. Mais tarde a sua revolta por ser negro, leva-o a juntar-se a um grupo de skinheads, com resultados violentos.

O realizador/actor/argumentista, que aqui interpreta o papel do seu pai, Adewale Akinnuoyes-Agbaje dá-nos a sua biografia em jeito de drama social realista inglês. A sua vida foi na realidade um inferno e como ele viria a dar volta, é sem dúvida um milagre. O filme é violento, muito sério e transmite uma certa sensação de mau estar. 

No papel principal, Damson Idris é um jovem revoltado, incapaz de captar a nossa empatia, mas acho que isso é propositado. Como a sua mãe adoptiva, Kate Beckinsale é uma verdadeira surpresa, com uma interpretação que merecia uma nomeação para o Óscar de Actriz Secundária. Um bom e revoltante drama, cujo final feliz é muito amargo.

 

I AM WOMAN (I Am Woman: A Voz da Mudança) de Unjoo Moon – 5


Helen Reddy é uma jovem cantora australiana que, nos anos 70, vai viver para os Estados Unidos atrás de um sonho. Com muito esforço, com a ajuda do marido, consegue começar a gravar discos e, por fim, torna-se uma estrela ao cantar uma canção feminista que é um sucesso e que a tornou numa activista pela igualdade das mulheres.

Por cá, Helen Reddy não é um nome conhecido por muitos. Eu só me lembro dela por causa de um filme que fez para a Disney, a versão original do PETE’S DRAGON. A dar-lhe vida, Tilda Cobham- Hervey não demonstra uma grande gama de emoções, sendo demasiado contida para o meu gosto, mas se calhar Helen Reddy era assim mesmo, não sei e, como tal, posso estar a ser injusto com ela. Já Evan Peters como o seu marido, é todo ele um turbilhão de emoções.

Na sua estreia na cadeira de realizadora de filmes de ficção, Unjoo Moon revela uma linguagem muito televisiva, documental e pouco emocional. Mesmo assim, o filme tem duas excelentes cenas que quase me levaram às lágrimas, o final e a cena em que Reddy canta pela primeira vez em público a canção “I Am Woman”.

 

LISTEN de Ana Rocha de Sousa – 4


Um casal de emigrantes portugueses a viver em Londres com os seus três filhos, veêm estes serem-lhe tirados pelos serviços sociais ingleses, para serem entregues a famílias de acolhimento (a mesma situação do FARMING). Numa luta contra o tempo, tentam evitar em tribunal que lhes tirem os filhos.

Aqui temos um drama social-realista, despido de todo e qualquer glamour cinematográfico, dirigido sem medo por Ana Rocha de Sousa. Infelizmente, este não é o meu tipo de filme, pois nunca tive muita paciência para dramas depressivos, por muito realistas que possam ser e acredito que este seja. Não quero com isto dizer que o filme é mau, nada disso, apenas não me consegui envolver emocionalmente com o que se passa no ecrã. A sua maior qualidade, é ser crú, é também a razão que me fez manter afastado; preciso que os filmes sejam mais filmes e menos realistas.

No papel da mãe, Lúcia Moniz, completamente despida de maquilhagem, é excelente e merecia uma nomeação para os Óscars. A seu lado, Ruben Garcia vai bem como o marido, um personagem mais fraco e também mais calmo.

 

A MALDIÇÃO DE LARRY (Come Play) de Jacob Chase – 6


Oliver é um miúdo autista e solitário que é observado por Larry, uma criatura solitária que se manifesta através de “smart phones” e outros écrans móveis. O problema é que Larry precisa de um amigo e está disposto a tudo para levar Oliver consigo.

Não vi a curta-metragem que deu origem a este drama de terror, mas esta deu ao seu realizador Jacob Chase, a hipótese de se estrear nas longas-metragens e o resultado é eficaz. O filme tem atmosfera e apesar de ser “levezinho” em termos de terror, mantém a tensão e tem um grupo de personagens credíveis. Levanta também uma questão moral, num mundo em que andamos todos de cabeça enfiada nos telemóveis e computadores, a solidão é cada vez maior e Larry é o resultado dessa solidão. Gostei do filme, mas dispensava a cena final e um pouco mais de terror podia tê-lo tornado num filme mais forte do género, como por exemplo o THE BABADOOK.

Azhy Robertson vai bem como o puto e, como os seus pais, Gilliam Jacobs e John Gallagher Jr. são convincentes e conseguem conquistar a nossa empatia, mas, empatias à parte, confesso que não queria estar na pele deles.

 

MULHERES AO PODER (Misbehaviour) de Philippa Lowthorpe – 6


Em 1970, durante o concurso de Miss World, um grupo de mulheres que são contra o que esse tipo de concursos representa, a degradação do sexo feminino, traçam um plano para interromperem o concurso e assim serem notícia internacional.

Baseando-se em factos verídicos, a realizadora Philippa Lowthrope, embrulha-os com ficção dramática e dá-nos uma comédia dramática que capta a nossa atenção, por vezes com sorrisos, outras com olhares indignos como o comportamento machista do famoso Bob Hope (Greg Kinnear em boa forma). Um pouco de suspense ajuda à festa e deixem-se ficar até ao genérico final, para ficarem a saber o que aconteceu a todas as mulheres que tiveram uma parte activa nesta história,

Um elenco de excelentes actrizes dá vida à colorida galeria de personagens femininas, com destaque para Keira Knightley, Jessie Buckley, Gugu Mbatha-Raw e, especialmente, Lesley Manville como a bem-humorada esposa de Bob Hope.

 

UMA SEREIA EM PARIS (Une Sirène à Paris) de Mathias Malzieu – 8


Gaspard é um cantor de bar que vive preso ao passado. Lula é uma sereia, cujo canto endoidece os homens que, literalmente, morrem de amor por ela. Um dia Gaspard encontra Lula num cais do Sena e leva-a para casa, por qualquer razão ele é imune aos seus cantos fatais.

Como sabe bem entrar no mundo nostálgico desta fantasia romântica! A história é simples, mas o realizador Mathias Malzieu carrega-a de magia, com cenários deliciosos e uma iluminação fantástica. É difícil resistir aos encantos do filme e dei por mim transportado para uma Paris quase irreal onde tudo pode acontecer. 

Como Gaspard, Nicolas Duvauchelle é um simpático charmoso por quem é fácil sentir empatia e Marilyn Lima é uma belíssima sereia. Entre os dois há uma química natural e um sentido de humor cúmplice, sem o qual este filme não seria o que é. No papel da vizinha bisbilhoteira, mas com boas intenções, Rossy de Palma é sempre deliciosa. É um filme que recomendo a todos os românticos e sonhadores que por aí andam, os outros talvez seja melhor afastarem-se. Uma agradável e refrescante surpresa!

Sem comentários:

Enviar um comentário