Não me recordo com que idade é que comecei a gostar de cinema, mas não me lembro de nenhuma altura na minha vida em que o cinema não fizesse parte de mim. Depressa me apaixonei por dois géneros específicos, ambos de puro escape, o Musical (culpa das matinés televisas com o Fred Astaire e a Ginger Rogers) e o Terror (a culpa foi dos contos de fadas originais, pré Disney). É sobre este último género que me vou hoje debruçar.
Não tenho a certeza se O FILHO DE DRÁCULA foi o primeiro filme do género que vi, mas é o primeiro de que me recordo de ver na televisão. ABBOTT E COSTELLO E OS MONSTROS, visto em 1975 no cinema Caleidoscópio, tinha então 11 anos, abriu-me a porta do género no cinema e, uns meses depois, vi o meu primeiro filme de terror “adulto” numa sessão da meia-noite, A IMAGEM DO MEDO (A Reflection of Fear) era o seu título e confesso que me meteu mesmo medo.
Depressa me tornei um ávido fã do género, vendo todos os filmes que podia. Sem clubes de vídeo nem internet, era aproveitar o que aparecia nos cinemas ou na televisão. Infelizmente o género não tinha grande divulgação por cá e eu “babava-me” a ler a revista “Famous Monsters” e mais tarde a “Fangoria”. Ouvia rumores de que em Paris e noutras cidades existiam salas de cinema especializadas no género e sonhava que um dia existisse uma dessas em Lisboa (o extinto Xenon foi quase isso).
Claro que a existência do Fantasporto, me fez sonhar que um dia seria possível ter um festival do género em Lisboa e, eis que em 2007, aparece o MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. Sim, leram bem, Cinema de Terror. Não é fantástico, a designação é mesmo “terror”!
Infelizmente, nos últimos anos deste Festival, o cinema de terror anda a ceder demasiado espaço a thrillers, dramas negros e como resultado este ano só fui ver dois filmes. Não há falta de filmes de terror, por isso por que razão se inaugurou a edição deste ano com o THE GREEN KNIGHT? Percebo que seja importante exibir cinema português, mas o que é que os filmes 20,3 PURGATÓRIO e INFERNO têm a ver com o género?
Também compreendo que os filmes que concorrem ao Prémio MotelX – Melhor Longa de Terror Europeia / Méliès d’argent, não sejam propriamente de terror. O Golden Méliès for Best European Fantastic Film é, como o nome diz, para cinema fantástico e não exclusivo para cinema de terror.
“Para mim, um elemento de fantasia é essencial para um verdadeiro filme de terror: o impossível em vez do improvável. O vampiro, o lobisomem, os mortos-vivos e os monstros criados pelos homens – estes são os heróis do cinema de terror e não os inquilinos, os estripadores e os psicopatas encapuçados”.
Talvez as suas palavras me tenham influenciado, pois concordo quase na totalidade com a sua afirmação e adoro tudo o que tenha a ver com o sobrenatural. Mas ao contrário dele, para mim os psicopatas também fazem parte do género que amo, o Terror.
Bem, espero que para o ano, o Terror volte em força ao MOTELX! Nós os fãs do género aguardamos ansiosamente pelo seu regresso!
Texto © Jorge Tomé Santos / 21.09.2021
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