domingo, 10 de julho de 2022

O CANTINHO DO JORGE









A partir de hoje, as minhas novas publicações sobre Cinema e, raramente, outros assuntos, podem ser vistas no meu blog O CANTINHO DO JORGE. 

Fico a aguardar a vossa visita, aqui fica o link: https://vamos-ao-nimas.blogspot.com


quarta-feira, 20 de abril de 2022

JORGE VAI AOS FILMES – Regresso à Aventura

Quando era puto adorava filmes de aventuras, principalmente se eram passados no meio da selva ou numa ilha vulcânica. Sonhava em ser um arqueólogo (o Indiana Jones ainda não tinha aparecido) e descobrir templos perdidos no tempo, tribos esquecidas e artefactos sobrenaturais. Claro, que quando cresci virei funcionário público, mas o aventureiro ainda está dentro de mim e adoro escapar para filmes que me levam para esses mundos fascinantes.

A CIDADE PERDIDA (The Lost City) de Aaron & Adam Nee – Classificação: 7 (de 1 a 10) 

Claro que nem todos os filmes do género conseguem fazer-me sentir esse espírito de aventura, que foi o que infelizmente aconteceu com o recente UNCHARTED. Mas eis que tudo muda com este CIDADE PERDIDA, onde a ideia do EM BUSCA DA ESMERALDA PERDIDA é reciclada com muita graça e o ritmo certo, diverti-me tanto que até lhe perdoo o facto de não ter um pouco de sobrenatural à mistura.

Sandra Bullock, que saudades tinha de a ver numa comédia, é uma autora de romances de aventura e amor, que é raptada pelos maus da fita e vai ser resgata por o bonzão que serve de modelo para as capas dos seus livros, Channing Tatum. Deixem-me que vos diga, o “casalito” tem química para dar e vender, com diálogos bem humorísticos para ajudar à festa; mal posso esperar para ver mais filmes com esta deliciosa dupla. Brad Pitt tem um delicioso papel secundário e Daniel Radcliffe convence como o mimado vilão. 

Se gostam de cinema de aventuras, quase de certeza que vão apreciar cerca de 90 minutos de puro escape, com muita gargalhada e romance.

ESCOLHE OU MORRE (Choose or Die) de Toby Meakins – Classificação: 3 (de 1 a 10)

Entretanto, vi mais um dos filmes de terror (adoro o género) que vão aparecendo na Netflix. Chama-se ESCOLHE OU MORRE e até tem uma ideia engraçada, que se arrasta sem suspense e com um ritmo lento que prejudica o filme. A permissa tem a ver com um velho jogo de computador que amaldiçoa quem o “desperta”, com consequências nefastas para essa pessoa e quem estiver próximo dela. Olhem, não é mau, mas também não é bom... tem os seus momentos.


quinta-feira, 14 de abril de 2022

JORGE VAI AOS FILMES – Chuva de Filmes

Nestas duas últimas semanas vi, entre salas de cinema e serviços de streaming, sete novos filmes. Podia ter visto mais, mas não tive tempo para isso (também gosto de ver algumas séries e fazer outras coisas).


FLEE – A FUGA (Flee) de Jonas Poher Rasmussen – Classificação: 7 (de 1 a 10) 

Adorava poder dizer que foi uma excelente colheita de filmes, mas oscilaram entre o mauzinho e, um único caso, um título acima da média. Este foi o FLEE – A FUGA, um interessante documentário em formato de cinema de animação, que nos obriga a colocar as nossas vidas em perspectiva. A saga dramática e humana de Amin, um puto que é obrigado a fugir do Afeganistão com a sua família, é um verdadeiro murro no estômago. É triste, mas a raça humana é tramada e de humana por vezes tem muito pouco ou nada. A animação não é perfeita, mas o realizador Jonas Poher Rasmussen tira o maior proveito dela conseguindo emocionar-nos sem lamechices e passar a sua mensagem sem parecer que está a pregar.


AMBULÂNCIA – UM DIA DE CRME (Ambulance) de Michael Bay – Classificação: 1 (de 1 a 10) e A BOLHA (The Bubble) de Judd Apatow – Classificação: 2 (de 1 a 10) 

Do lado oposto do espectro, vi a última perseguição de Michael Bay e uma comédia “covid” de Judd Apatow. O primeiro, AMBULÂNCIA – UM DIA DE CRIME, é apenas isso, uma longa perseguição policial, com muitos maus pelo meio, que se prolonga por mais de duas intermináveis horas e que, infelizmente, não chega a ser suficientemente mau para ser pelo menos divertido. É uma pena ver o borracho do Jake Gyllenhaal em “overacting” de esgares de louco; esqueçam. Quanto ao A BOLHA, a ideia tem graça e o elenco capacidades para lhe fazer jus. Imaginem uma equipa de filmagens fechada, por causa do Covid, num hotel de luxo a fim de fazerem um novo capítulo de uma saga de ficção-científica, “Cliffbeasts”. O problema é que a graça inicial depressa se esgota e ao fim de duas longas horas os sorrisos desvanecem-se.

O PROJECTO ADAM (The Adam Project) de Shawn Levy – Classificação: 3 (de 1 a 10) e MONSTROS FANTÁSTICOS: OS SEGREDOS DE DUMBLEDORE (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore) de David Yates – Classificação: 6 (de 1 a 10) 

Já que falei de ficção-cientifica, isso leva-me a outro dos filmes que vi, cujo cartaz trás à mente memórias nostálgicas do ET. Refiro-me ao O PROJECTO ADAM, um filme de aventuras juvenil que vive da presença sempre simpática de Ryan Reynolds, bem acompanhado com o seu “mini me” Walker Scobell. Viagens no tempo, dramas familiares, uma “vilona” que é uma cabra e algum humor, não chegaram para me convencer. No campo do fantástico gostei muito mais do novo capítulo dos MONSTROS FANTÁSTICOS, onde criaturas mágicas se misturam com politiquices de feiticeiros, apelando à nossa imaginação e com alguns bons momentos de suspense. É verdade, no papel de Grindewald, Mads Mikkelsen não faz esquecer a loucura demente e divertida de Johnny Depp, mas gostei mais deste filme do que dos dois capítulos anteriores.

OS OLHOS DE TAMMY FAYE (The Eyes of Tammy Faye) de Michael Showalter – Classificação: 6 (de 1 a 10) 

Se gostam de biografias e de Jessica Chastain, não percam OS OLHOS DE TAMMY FAYE. Não é um grande filme, mas Tammy Faye e seu marido Jim Bakker fazem um casal mais que interessante e a sua história parece ter sido escrita por um argumentista de Hollywood, mas é praticamente tudo verdade. Andrew Garfield e Cherry Jones são muitos como o marido e a mãe de Tammy, mas o filme pertence a Jessica Chastain. Ela é simplesmente extraordinária e o seu Óscar foi mais que merecido, bem como o Óscar para o fantástico trabalho de maquilhagem. Aconselho a darem-lhe uma vista de olhos.


CORDEIRO (Lamb) de Valdimar Jóhannsson – Classificação: 6 (de 1 a 10) 

E para terminar, talvez o filme mais estranho, ou como alguém comentou, mais bizarro do ano. Imaginem um casal que vive isolado nos montes no meio do seu rebanho e que decide adoptar um cordeiro como sendo sua filha, com consequências dramáticas para eles e, por vezes, incomodativas para nós. Este CORDEIRO chega-nos da Islândia e o seu realizador, Valdimar Jóhannsson, consegue criar uma atmosfera fantástica e tensa, onde a bicharada tem ar de quem nos pode atacar em qualquer momento. O ritmo é lento, a paisagem inóspita, o elenco eficaz, os efeitos especiais bons, mas para mim precisa de mais qualquer coisa e o final deixou-me insatisfeito. Seja como for, acho que nunca mais vou olhar para as ovelhas da mesma maneira.


segunda-feira, 11 de abril de 2022

JORGE VAI AO TEATRO: AN ENGLISHMAN ABROAD de Alan Bennett

A companhia The Lisbon Players existe em Lisboa há já várias décadas, mas infelizmente perderam o seu espaço de eleição, o Estrela Hall. No seu lugar irá, supostamente, nascer mais um condomínio de luxo onde não haverá espaço para acolher uma pequena sala de teatro. Perante esta situação, mais a porra do Covid, esta companhia tem estado um pouco parada. Assim, é com alegria que anuncio que estão de volta, desta vez no espaço do Teatro do Bairro, com uma peça de Alan Bennett e, acreditem, eles merecem a vossa atenção.

Este original foi escrito para a BBC e baseia-se no encontro real entre a atriz Coral Browne e Guy Burgess, que trabalhava para a União Soviética como espião. O encontro deu-se em Moscovo em 1958, para onde Guy fugiu e aonde Coral foi em digressão. Ele tem um pedido peculiar a fazer à actriz; que esta lhe tire as medidas e mande fazer um fato para ele em Londres.

Assim, à primeira vista, parece que não há muito assunto e, ao princípio, fiquei um pouco baralhado quanto ao assunto da peça. Mas depressa percebi que, com humor, Bennett dá-nos um retrato intimista de um homem solitário, de certa forma dispensável, um pouco patético, que sonha com a sua pátria, mas que sabe que não pode abandonar a sociedade cinzenta de Moscovo, onde ainda assim se consegue divertir com um moço ou outro. Quanto a Coral, é uma mulher perspicaz, sem papas na língua, que parece viver a sua vida como quer.

A direção sóbria de Elizabeth Bochmann, flui durante uma curta hora, tirando o maior proveito do excelente par de actores que tem nas suas mãos. Estes são Celia Williams e Mick Greer, quem dão vida de forma animada a dois personagens que enchem o palco com graça e emoção. O jovem Marco Fernandes também dá o ar da sua graça num pequeno apontamento coreográfico.

Para quem não está habituado às produções do Lisbon Players, chamo a atenção que estas são sempre em inglês, sem legendas. Posto isto, aconselho uma ida até ao Teatro do Bairro e saúdo o regresso desta companhia teatral!

Elenco: Celia Williams, Mick Greer, Marco Fernandes, Vuk Simic

Equipa Criativa: Texto de Alan Bennett • Cenografia de Miguel Sá Fernandes • Assistende de Encenação: Cassandra Weightman • Luz de Adrian Pearce • Figurinos de Elizabeth Day • Produção de Jonathan Weightman e Suresh Nampuri • Encenação de Elizabeth Bochmann

Classificação: 6 (de 1 a 10) / Designer Gráfico: Luís Covas


quarta-feira, 30 de março de 2022

JORGE VAI AO TEATRO: O AMOR É TÃO SIMPLES de Noël Coward

O termo “screwball comedy” (qualquer coisa como “comédia maluca” em português) nasceu na Hollywood dos anos 30 e era um subgénero da comédia romântica sofisticada, onde, geralmente, havia uma guerra de sexos, as mulheres dominavam a acção, os homens viam a sua masculinidade ameaçada, e gerava-se sempre uma grande confusão entre as personagens. Pessoalmente, adoro o género! Bons exemplos do mesmo são o IT HAPPENED ONE NIGHT, MY MAN GODFREY, THE LADY EVE e BRINGING UP BABY. 

Tudo isto para vos falar de O AMOR É TÃO SIMPLES (PRESENT LAUGHTER no original), uma comédia escrita por Noël Coward em 1939, que encaixa perfeitamente nesse género, e que estreou para nosso puro deleite no Teatro da Trindade em Lisboa.

Como o próprio Diogo Infante diz na “folha de sala”, “em equipa vencedora não se mexe” e depois da fantástica produção de CHICAGO, juntaram-se todos de novo para nos dar mais um grande espectáculo. São praticamente duas horas de pura diversão, muita confusão e muita gargalhada, com a tradução de Ana Sampaio a importar a história para Lisboa e a adaptá-la de forma brilhante para a nossa realidade (até Florbela Espanca tem direito a um momento teatral).

Quanto a Diogo Infante, confesso que não lhe conhecia a veia cómica e isso foi uma agradável surpresa para mim. O seu personagem, Guilherme de Andrade, é um charmoso e arrogante actor de meia-idade que todos adoram, é maior que a vida e Infante é simplesmente fantástico no papel. Mas Infante também é excelente na direcção, com um cómico timing perfeito e um ritmo que flui sem quebras. Noutra coisa que ele também foi muito bom foi na escolha do elenco, que dirige com mão de mestre.

Como é costume nestas “comédias malucas”, as personagens femininas acabam por ter sempre um grande peso e esta peça não é excepção, dando a todas elas oportunidade de brilhar. Gabriela Barros é a jovem e ingénua aspirante a actriz, Rita Salema é a prática secretária de língua afiada, Ana Brito e Cunha a assertiva e confiante ex-mulher, Patrícia Tavares é a predadora e atrevida esposa de um amigo e Ana Cloe é a deliciosa governanta russa (mas também uma tia ricaça). Quanto a eles, Cristóvão Campos é um autor pseudo-intelectual que começa a sentir “coisas” por Guilherme, António Melo é o amigo traído, Miguel Raposo o amante destroçado e Flávio Gil o mordomo maroto (parabéns a Infante por estar a dar a mão a este jovem e talentoso actor, que era extraordinário no seu solo na peça MÁRIO) Todos estão excelentes nos seus papéis e foi com prazer que, no final, me levantei para os aplaudir de pé.

Já devem ter percebido que gostei muito da peça, que recomendo sem reservas. Numa altura em que o Mundo está triste e sem graça, sabe bem escapar à realidade por duas horas onde o amor não é assim tão simples, mas é pretexto para um elegante e divertido entretenimento. Infante e o seu elenco merecem a vossa visita e, acreditem, vão ter uma fantástica noite (ou matiné). Uma “comédia maluca” a não perder!

Elenco: Diogo Infante (Guilherme), Ana Brito e Cunha (Lis), Ana Cloe (a governanta e a tia de Henriqueta), António Melo (Hugo), Cristóvão Campos (Roberto), Flávio Gil (Quim), Gabriela Barros (Henriqueta), Miguel Raposo (Mateus), Patrícia Tavares (Joana), Rita Salema (Mónica)

Equipa Criativa: Texto de Noël Coward • Tradução de Ana Sampaio • Música de Nuno Rafael e Filipe Melo • Letra de Rui Melo • Cenografia de F. Ribeiro • Figurinos de José António Tenente • Desenho de luz de Paulo Sabino • Encenação de Diogo Infante

Classificação: 8 (de 1 a 10) / Fotos: Filipe Ferreira





terça-feira, 29 de março de 2022

ÓSCARES 2022 – O Ano da Chapada

Aviso: Esta crónica é politicamente incorrecta.

Quem me conhece, pelo menos minimamente, sabe que estou farto do politicamente correcto e da falta de humor dos dias de hoje. Tudo é levado a sério e há sempre alguém que fica ofendido com alguma coisa. Diria mesmo que (o Covid e a invasão da Ucrânia não têm nada a ver com isso) estamos a viver a década mais chata da raça humana. Mas, vou-me debruçar sobre os Óscares.

A importância dos famosos Óscares, supostamente os melhores e, decididamente, os mais famosos prémios cinematográficos na História do Cinema, é cada vez mais fraca e a cerimónia da entrega dos prémios perdeu a graça e o sentido de espectáculo (ainda me lembro de alguns fabulosos números musicais que abriam a cerimónia), tornando-se numa longa e aborrecida noite de discursos, de piadas com pouca graça e passagem de modelos.

Quando há uns anos, Will Smith e muitos outros ficaram ofendidos por não haver um único actor negro entre os nomeados desse ano e pensaram em boicotar os Óscares, temi o pior. Quando, mais tarde, ouvi falar da possibilidade de prémios para actores de cor, achei isso assustador. Atenção, não tenho nada contra actores negros; para mim, são todos iguais, independentemente da sua raça, sexualidade e escolhas politicas. A mim o que me interessa é a qualidade das suas interpretações, tudo o resto para mim é secundário. Bem, sei que isto vai soar mal, mas julgo que há limites. Por exemplo, nos palcos de Londres vai estrear uma nova produção do MY FAIR LADY com uma atriz negra no papel principal e não estou nada convencido com a ideia.

Acho que os Óscares e qualquer outro prémio devem ser “cegos” quanto à raça dos artistas, mas não concordo com as chamadas “cotas”, em que alguém só ganha o prémio porque não é branco, ou porque é queer ou outra razão qualquer. Acho que isso não faz sentido, devem ganhar apenas se o merecerem, e apenas por isso. Na minha opinião, o problema não é falta de nomeações para actores não brancos, mas sim por não lhes darem melhores papéis.

E eis-nos chegados à noite de ontem, onde o que ficou registado, não foi o facto de Will Smith ter ganho o Óscar de Melhor Actor (o prémio devia ter ido para Benedict Cumberbatch) mas sim o facto de ele ter agredido Chris Rock, por uma das suas infelizes piadas sem graça (uma das “imagens de marca” da cerimónia nos últimos anos). Felizmente, são os dois negros, caso contrário os media e as redes sociais já estariam a ferver com questões racistas.

Tinha dito a mim próprio que se o filme CODA ganhasse o prémio para Melhor Filme, deixaria para sempre de dar importância aos Óscares e foi isso que aconteceu. CODA, apesar de ser inferior à versão original francesa, é um bom filme, mas não está à altura de BELFAST, DON’T LOOK UP, DUNE, NIGHTMARE ALLEY (o meu favorito), WEST SIDE STORY ou THE POWER OF THE DOG. A verdade é que acho que ganhou porque toca num assunto muito querido à Academia de Hollywood, personagens com deficiências físicas, neste caso uma família de surdos mudos. Como se isso não bastasse, ainda ganhou Melhor Argumento Adaptado (com uma história perfeita para uma matiné em casa) e Actor Secundário para Troy Kotsur, que vai bem, mas não faz sombra a Kodi Smith-McPhee nem aos outros. Vou ser mau, acho que ele ganhou, porque assim foi o primeiro actor masculino surdo-mudo a ganhar o prémio.

Mas o politicamente correcto continuou durante a noite. Jane Campion, uma mulher, ganhou o merecido Óscar para Melhor Realizador e Ariana DeBose (que não seria a minha escolha) como Melhor Actriz Secundária. O que me irrita não é DeBose ter ganho, mas sim o facto de parecer que a sua vitória é mais importante por ela se tornar a primeira atriz queer de cor a ganhar o prémio, do que pela qualidade da sua interpretação. Mas é o mundo em que vivemos. Pelo menos, entre os actores, Jessica Chastain é única que parece não pertencer a nenhuma cota.

E pronto tenho dito. Espero não ter ofendido ninguém, mas se o fiz não foi intencional. Isto é mesmo o que penso e estou cansado de termos que ser todos tão polidos e de já não se puder brincar com nada. Para o ano haverá mais Óscares, que ganhem os melhores, não por preencherem cotas, mas sim por serem muito bons!




quinta-feira, 24 de março de 2022

JORGE VAI AOS FILMES – Terror a Dobrar

Terror, se bem que já não tenho a paciência que tinha quando era jovem e via toda a “merda” que aparecia. Infelizmente, o género continua a estar povoado por filmes muito maus, que nascem, quais ervas daninhas nos clubes de vídeo do MEO (e companhia) ou no Netflix e seus “primos”. 

Quanto às salas de cinema, não é um género que os distribuidores favoreçam.

X de Ti West – Classificação: 7 (de 1 a 10) 

Tudo isto, porque quero chamar a atenção para um bom filme do género que estreou de forma apagada nos nossos cinemas. Refiro-me ao X.

Quando era puto ou adolescente (anos 70 e 80 do século passado) adorava ver os filmes de terror feitos para adultos (eram interditos a menores de 18 anos) e consegui convencer os meus pais a levarem-me a ver muitos. Nessa altura, apesar de haver filmes em que os adolescentes eram as vítimas, os filmes não eram feitos para essa camada etária e isso era tão bom! Pois bem, este X levou-me de volta a esses tempos.

A história é simples. Uma pequena equipa cinematográfica de cinema porno, aluga uma casa numa quinta algures no Texas, mas os donos dela têm uma surpresa para eles... É fácil de imaginar o que vai acontecer e o suspense é pouco ou nenhum, mas o filme vale pela atmosfera e pelo seu ar sujo. O elenco de caras mais ou menos conhecidas cumpre bem as suas funções, os crimes são violentos e há um irritante pregador televisivo. É verdade, como todos os filmes de Ti West, o ritmo é lento e a acção custa a arrancar, mas quando arranca... bem-vindos ao Cinema de Terror dos anos 70! Sem dúvida um novo filme culto, que faz uma boa parelha com o superior FRESH (que podem ver na Disney).



SEGREDO OBSCURO (The Night House) de David Bruckner – Classificação: 2 (de 1 a 10) 

Também na Disney acabou de ficar disponível um novo filme de terror (que foi o escolhido para encerrar a última edição do MOTELx) e se, como eu, acharem que o ritmo de X é lento, então preparem-se para adormecer com este SEGREDO OBSCURO, que é tão obscuro que acho que não percebi muito bem o que se passava. Bem, se calhar a culpa é minha, que dei umas valentes “cabeçadas” durante a sua visão.

A atriz Rebecca Hall (que nunca me conquistou) é quase presença única como a recente viúva que descobre que o marido, que se suicidou, tinha um segredo terrível... ou será que não tinha? A casa é gira e a sua localização um sonho, mas a história arrasta-se sem interesse ou qualquer tipo de suspense. Como já devem ter percebido não gostei, mas a moça até que não está mal.




quarta-feira, 23 de março de 2022

JORGE VAI AO TEATRO: A RATOEIRA de Agatha Christie

Das vezes que fui a Londres fiquei sempre curioso com esta famosa peça de Agatha Christie por duas razões. Sempre gostei de um bom “whodunnit” (quem é o culpado) e pelo facto de a peça estar em exibição há décadas (70 anos). Acabei por nunca a ver, porque acabo sempre por preferir ir ver um musical e achar que um dia verei a peça. Esse dia chegou a semana passada e foi aqui em Lisboa, Portugal.

A pedido do actor Ruy de Carvalho, que com 95 anos está ali para as “curvas”, não posso revelar a identidade de pessoa ou pessoas responsáveis pelo crime, no fundo somos cúmplices das personagens. Posso apenas adiantar que não é nem o mordomo nem a cozinheira.

O primeiro acto é muito divertido e a acção flui muito bem, com uma excelente introdução dos personagens/suspeitos e da trama por detrás do crime. No segundo acto a acção arrasta-se um pouco e a conclusão precisava de mais suspense. Tirando isso, gostei de passar a noite na companhia do talentoso elenco, onde tenho que destacar Henrique de Carvalho e Elsa Galvão que, com as suas personagens meio excêntricas, foram para mim as estrelas da noite. 

Fiquei curioso quanto a uma coisa. Será que no texto original da tia Agatha Christie, a sexualidade de algumas personagens era dúbia? Mas gosto que assim seja!

Soube-me bem ir ao teatro e ver uma plateia cheia e satisfeita. Esta Ratoeira merece uma visita e, se o queijo são os actores, não tenham receio de ser os ratos! 


Elenco: Filipe Crawford, Henrique de Carvalho, Ruy de Carvalho, Elsa Galvão, Sara Cecília, Daniel Cerca Santos, Sofia de Portugal, Luís Pacheco

Equipa Criativa: Textos de Agatha Christie • Cenografia e Guarda-roupa de Fred Klaus • Encenação de Paulo Sousa Costa

Classificação: 6 (de 1 a 10) 




quarta-feira, 16 de março de 2022

JORGE VAI AOS FILMES – Novidades e Nostalgia

Para quem não tenha reparado, mudei o título desta minha coluna de “Jorge Vai ao Cinema” para “Jorge Vai aos Filmes”, pois hoje em dia, mais do que nunca, acabam por haver títulos mais interessantes para ver nos Netflix e HBO destes mundos do que nas salas de cinema.


ESTRANHAMENTO VERMELHO (Turning Red) de Sian Heder – Classificação: 6 (de 1 a 10) 

É estranho, mas esta semana o último filme de animação da Pixar, ESTRANHAMENTE VERMELHO, estreou no canal Disney, sem sequer passar pelos cinemas. Ficamos a perder com isso? Não sou a melhor pessoa para vos responder à pergunta, pois prefiro ver os filmes no cinema; mas a verdade é que com a qualidade de imagem e som que já se consegue ter em casa (com a vantagem de não vermos luzes de telemóveis a acender em momentos cruciais dos filmes), muitas vezes essa pode ser a melhor opção.

Quanto a este filme do panda vermelho, não é dos melhores da Pixar, mas é dos mais audazes e não digo isso por ter uma heroína asiática. Quem diria que um dia alguém se ia lembrar de fazer um filme sobre a menstruação? Pois é, a pequena Meilin, está a transformar-se numa adolescente irritante, com as hormonas aos saltos e quando se irrita ou emociona, solta o vermelho que há em si, neste caso uma fofinha panda vermelha. Claro que há uma razão por detrás disto, mas o resultado fez-me rir muito e a boy-band que aparece é deliciosamente pirosa. Os meus parabéns à Pixar pela ousadia!


FRESH de Mimi Cave – Classificação: 7 (de 1 a 10) 

Curiosamente também foi no canal da Disney, que vi um interessante e macabro filme de terror, seu nome é FRESH e acreditem que é bem fresco! Daisy Edgar-Jones e Sebastian Stan formam um casal simpático, divertido e com imensa química... mas ele tem um segredo e mais não posso dizer. Para mim foi uma agradável surpresa, que começa como comédia romântica, para se tornar num thriller violento, onde o humor negro está sempre presente, e, felizmente, onde, ao contrário que seria de esperar, o gore não é fundamental. Pode haver quem precise de ter um bom estômago para o ver, mas acreditem que vale a pena. Obrigado Mimi Cave por nos dar esta pequena negra preciosidade!


RESISTÊNCIA (Resistance) de Jonathan Jakubowicz – Classificação: 7 (de 1 a 10) 

Mas também fui ao cinema. Desta vez ver um filme que, derivado ao que se passa no nosso mundo, é infelizmente actual. Chama-se RESISTÊNCIA e conta-nos um episódio da Segunda Guerra Mundial, quando o famoso mimo/actor Marcel Marceau (um convincente Jesse Eisenberg) se junta à resistência francesa para ajudar a salvar crianças judias órfãs. Não é o melhor filme sobre o tema, mas é suficientemente emocional para nos dar vontade de nos juntarmos à resistência e lutar contra os “maus”, neste caso os Nazis, presentemente Putin e seus apoiantes. As questões que levanta são tão válidas dantes como hoje: que direito tem outro país de invadir outro, que direito tem uma ‘raça’ de destruir outra, que direito têm outros de nos forçar a ser como eles ou a seguir os seus ideais. Tudo perguntas cuja resposta é só uma, ninguém tem esse direito!


A AVENTURA DO POSEIDON (The Poseidon Adventure) de Ronald Neame – Classificação: 7 (de 1 a 10) 

Voltando ao pequeno écran, revi dois filmes que vi, faz muitos anos no cinema, um em reposição e outro em estreia. O primeiro a que me refiro é o A AVENTURA DO POSEIDON, o filme em que um navio-cruzeiro se vira de pernas para o ar com um elenco de caras conhecidas no seu interior. Tão eficaz hoje como quando o vi, apesar de todas as suas inverosimilhanças, segue-se com agrado e com suspense; num tempo em que estes filmes não viviam só dos efeitos especiais, mas também de criar um grupo de personagens fortes e credíveis. De certa forma, foi o filme que deu lugar ao chamado cinema-catástrofe e, se nunca viram, prepararem-se para duas horas bem passadas.


OS SALTEADORES DA ARCA PERDIDA (Raiders of the Lost Ark) de Steven Spielberg – Classificação: 10 (de 1 a 10) 

O outro foi um dos meus filmes favoritos (está no meu top-ten). Acredito que já devem ter ouvido falar dele, OS SALTEADORES DA ARCA PERDIDA de Steven Spielberg. Estreou por cá em 1981 e fui à estreia, tendo voltado ao cinema dias depois para o rever. Ele há filmes perfeitos, mesmo com todos os seus defeitos, e este é um deles!

Filme de aventuras por excelência, deu-nos o inesquecível Indiana Jones (um Harrison Ford no topo da sua forma e bom como o milho) e uma história que nos prende à cadeira do princípio ao fim. A procura pela Arca da Aliança onde estão as tábuas dos dez mandamentos, coloca Jones contra os Nazis, com resultados brilhantes, um sentido de humor apurado e uma galeria de personagens que nunca vou esquecer. A química entre Jones e Marion (Karen Allen no seu melhor) é escaldante, o argumento está muito bem construído, Spielberg está no seu melhor, a banda sonora é memorável e o lado sobrenatural/místico dá-lhe o toque final. Inesquecível e “fantabulástico”!  Filmes como o recente UNCHARTED têm muito para aprender.

Bem, isto já vai muito longo. Divirtam-se e bons filmes!

quinta-feira, 10 de março de 2022

JORGE VAI AO CINEMA – Cinema Negro vs Cinema Emocional

Mesmo antes do Covid, a forma de ver filmes já estava a mudar e a pandemia veio acelerar ainda mais essa mudança. Hoje temos tantas estreias no Netflix, HBO, Amazon Prime, Apple, Disney e outros, que por vezes o panorama das estreias nas salas fica a perder. Claro, que na minha opinião, ver um filme no escuro do cinema é muito diferente de o ver no escuro da nossa casa. Pessoalmente, prefiro a magia do cinema no grande écran e como acto colectivo, bem, na verdade já sou um cota, talvez seja por isso. Mas passei muitas horas da minha vida nessas salas escuras, onde a magia nos envolve e onde, por umas horas, esquecemos tudo. Em casa essa experiência é difícil de conseguir.

Toda esta conversa para constatar o óbvio. Hoje em dia, muitas vezes o programa desses canais é mais interessante do que as estreias no nosso circuito comercial e, como o tempo não estica, temos que fazer escolhas. Na última semana, como já o fiz noutras ocasiões, optei por dar atenção a ambos os meios. Assim fui ao cinema ver o novo Batman e em casa vi um dos nomeados para os Óscars, o NO RITMO DO CORAÇÃO.

Tenho que confessar que, por sistema, embirro com o Robert Pattinson e fui ver o novo Batman com algum receio. Por outro o lado, costumo gostar bastante do realizador Matt Reeves (o DAWN e o WAR FOR THE PLANET OF THE APES), por isso ia com algumas expectativas, mas com receio pelo facto do filme durar quase três horas. Não querem lá ver que não sou fiquei agradavelmente surpreendido com o filme (um dos melhores do Batman), como até gostei do sonso do Pattinson! O seu olhar de “carneiro mal morto” encaixa bem com o ar atormentado de Bruce Wayne e até tem química com a nova Catwoman, uma Zõe Kravitz em grande forma. Mas o elenco é todo muito bom e Reeves um excelente diretor de actores: desde um irreconhecível Colin Farrell como Pinguim, a agradável surpresa de encontrar John Turturro num papel à sua altura, até ao excelente Paul Rano como o Riddler.































Este BATMAN não é para crianças, nem para teenagers, mas sim para adultos. Não diria que é propriamente um filme de super-heróis, mas sim um thriller negro, muito negro, sério e dramático. No fundo Batman aqui é uma sombra que mete medo aos “maus” e, ao mesmo tempo, um perspicaz detective. O conceito é diferente, claustrofóbico, com dicas ao SAW, e tudo funciona muito bem. Visualmente é brilhante e adorei a cena em que no meio de uma inundação Batman lidera as pessoas com a sua luz. Uma excelente surpresa e um dos filmes do ano!

Em 2015, vi no cinema uma comédia dramática intitulada LA FAMILLE BÉLIER, da qual gostei muito. Anos depois aparece a versão americana deste filme, com o título NO RITMO DO CORAÇÃO (CODA no original e que quer dizer “filho de um adulto surdo”) e, apesar de ser bom, não está ao nível do original. A história é simples, a filha de uma família surda-muda descobre que é uma excelente cantadeira e isso causa conflitos com os seus pais. Ao contrário do filme francês, aqui a sua família é interpretada por actores que são na realidade surdo-mudos e que fazem muito bem os seus papéis. No papel principal Emilia Jones vai vem, canta, mas não encanta. 

Tendo em conta a pandemia do “politicamente-correcto” e que o filme ganhou o Screen Actors Guild Award para melhor elenco, não me admirava que ganhasse o Óscar para Melhor Filme, mas não acho que o mereça. Mas é um bom filme para ver em família, daqueles que nos levanta a moral.




THE BATMAN de Matt Reeves – Classificação: 4 (de 1 a 10) 

NO RITMO DO CORAÇÃO (CODA) de Sian Heder – Classificação: 6 de 1 a 10)