quinta-feira, 10 de março de 2022

JORGE VAI AO CINEMA – Cinema Negro vs Cinema Emocional

Mesmo antes do Covid, a forma de ver filmes já estava a mudar e a pandemia veio acelerar ainda mais essa mudança. Hoje temos tantas estreias no Netflix, HBO, Amazon Prime, Apple, Disney e outros, que por vezes o panorama das estreias nas salas fica a perder. Claro, que na minha opinião, ver um filme no escuro do cinema é muito diferente de o ver no escuro da nossa casa. Pessoalmente, prefiro a magia do cinema no grande écran e como acto colectivo, bem, na verdade já sou um cota, talvez seja por isso. Mas passei muitas horas da minha vida nessas salas escuras, onde a magia nos envolve e onde, por umas horas, esquecemos tudo. Em casa essa experiência é difícil de conseguir.

Toda esta conversa para constatar o óbvio. Hoje em dia, muitas vezes o programa desses canais é mais interessante do que as estreias no nosso circuito comercial e, como o tempo não estica, temos que fazer escolhas. Na última semana, como já o fiz noutras ocasiões, optei por dar atenção a ambos os meios. Assim fui ao cinema ver o novo Batman e em casa vi um dos nomeados para os Óscars, o NO RITMO DO CORAÇÃO.

Tenho que confessar que, por sistema, embirro com o Robert Pattinson e fui ver o novo Batman com algum receio. Por outro o lado, costumo gostar bastante do realizador Matt Reeves (o DAWN e o WAR FOR THE PLANET OF THE APES), por isso ia com algumas expectativas, mas com receio pelo facto do filme durar quase três horas. Não querem lá ver que não sou fiquei agradavelmente surpreendido com o filme (um dos melhores do Batman), como até gostei do sonso do Pattinson! O seu olhar de “carneiro mal morto” encaixa bem com o ar atormentado de Bruce Wayne e até tem química com a nova Catwoman, uma Zõe Kravitz em grande forma. Mas o elenco é todo muito bom e Reeves um excelente diretor de actores: desde um irreconhecível Colin Farrell como Pinguim, a agradável surpresa de encontrar John Turturro num papel à sua altura, até ao excelente Paul Rano como o Riddler.































Este BATMAN não é para crianças, nem para teenagers, mas sim para adultos. Não diria que é propriamente um filme de super-heróis, mas sim um thriller negro, muito negro, sério e dramático. No fundo Batman aqui é uma sombra que mete medo aos “maus” e, ao mesmo tempo, um perspicaz detective. O conceito é diferente, claustrofóbico, com dicas ao SAW, e tudo funciona muito bem. Visualmente é brilhante e adorei a cena em que no meio de uma inundação Batman lidera as pessoas com a sua luz. Uma excelente surpresa e um dos filmes do ano!

Em 2015, vi no cinema uma comédia dramática intitulada LA FAMILLE BÉLIER, da qual gostei muito. Anos depois aparece a versão americana deste filme, com o título NO RITMO DO CORAÇÃO (CODA no original e que quer dizer “filho de um adulto surdo”) e, apesar de ser bom, não está ao nível do original. A história é simples, a filha de uma família surda-muda descobre que é uma excelente cantadeira e isso causa conflitos com os seus pais. Ao contrário do filme francês, aqui a sua família é interpretada por actores que são na realidade surdo-mudos e que fazem muito bem os seus papéis. No papel principal Emilia Jones vai vem, canta, mas não encanta. 

Tendo em conta a pandemia do “politicamente-correcto” e que o filme ganhou o Screen Actors Guild Award para melhor elenco, não me admirava que ganhasse o Óscar para Melhor Filme, mas não acho que o mereça. Mas é um bom filme para ver em família, daqueles que nos levanta a moral.




THE BATMAN de Matt Reeves – Classificação: 4 (de 1 a 10) 

NO RITMO DO CORAÇÃO (CODA) de Sian Heder – Classificação: 6 de 1 a 10) 


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