quarta-feira, 2 de março de 2022

JORGE VAI AO CINEMA – Conflitos Externos vs Conflitos Internos

Numa altura em que estamos todos a ser afectados, de uma forma ou outra, com a terrível invasão de que a Ucrânia está a ser vítima por parte de Putin, pode parecer-vos estranho eu continuar a ir ao cinema, mas este continua a ser o escape perfeito de este mundo governado por loucos e seus seguidores.

Curiosamente, um dos filmes que fui ver, BELFAST, é infelizmente muito actual. Nele é retratado, pelo olhar inocente de uma criança, o conflito de que no final dos anos 60 a Irlanda foi palco, onde alguns protestantes e católicos decidiram andar à porrada por razões que a eles lhes pareciam válidas. A verdade é que, na maioria das vezes, as razões que levam a guerras civis ou mundiais não fazem qualquer sentido, a não ser a homens gananciosos sedentos de poder e dinheiro, ou que querem pura e simplesmente forçar a sua forma de vida a outros. Sei que a minha visão é muito simplicista, mas pouco ou nada justifica uma guerra e, seja qual for o seu resultado, todos perdem.

Bem, voltando ao BELFAST, e este é sem sombra de dúvida o melhor filme de Kenneth Branagh, que assim se redime do egocentrismo pretencioso e politicamente correcto da sua versão de MORTE NO NILO. Branagh dirige de forma simples e despretensiosa, num glorioso preto e branco, dando-nos uma deliciosa galeria de personagens e um olhar nostálgico difícil de resistir. Apesar do ambiente dramático, o seu sentido de humor nunca deixa o filme cair na lamechice, sendo emotivo de forma natural. Quanto ao excelente elenco, apesar da presença de Judi Dench, Ciarán Hinds, Jamie Dorman e de pequena revelação que é Jude Hill, é Caitriona Balfe que é a verdadeira surpresa como a mãe de família dividida entre o amor ao seu marido e a Belfast. Não percam!












Se em BELFAST o conflito é externo, em A PIOR PESSOA DO MUNDO o conflito é interno. Julie, a sua protagonista, é uma jovem que não sabe muito bem o que quer fazer com a sua vida, tanto em termos profissionais como emocionais. Não sou da geração de Julie, em que parece que o mundo tem mil e uma possibilidades para nós, que é difícil escolher o nosso caminho, pois parece sempre haver novas e atraentes hipóteses ao virar da esquina, sejam elas profissionais ou amorosas. Nesse aspecto este drama ou comédia... acho que é mais drama, de Joachim Trier, dá-nos um retrato realista em formato literário (prólogo, doze capítulos e um epílogo) do tipo de conflitos internos que muitos jovens da geração dos 20/30 anos vivem. Também é verdade que, apesar de ser de uma geração diferente, me revi em algumas situações; houve vezes em que me senti um personagem secundário na minha própria vida; é bom termos uma relação em que se fala de tudo e, quando se tem, deve-se fazer tudo para a manter, pois é uma coisa rara. Como o filme muito bem demonstra, a vida não é fácil, mas muitas vezes parece que nós também temos gosto em complicá-la, vá-se lá saber por quê.

Gostei da jovem Renate Reinsve como a simpática e instável Julie, bem acompanhada por Anders Danielsen Lie e Herbert Nordrum como os homens da sua vida. Já não apreciei tanto o ritmo lento dado ao filme por Trier e achei o filme demasiado longo, sem necessidade disso. Mas é interessante e tem boas hipóteses de ganhar o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Não me pareceu que Julie, ou algum dos seus parceiros, fosse a pior pessoa do mundo, mas na realidade, todos nós o podemos ser (ou já fomos) em qualquer momento da nossa vida. Presentemente, diria que Putin é a pior pessoa do mundo!














BELFAST de Kenneth Branagh – Classificação: 8 (de 1 a 10) 

A PIOR PESSOA DO MUNDO (Verdens Verste Menneske) de Joachim Trier - Classificação: 6 (de 1 a 10)


Sem comentários:

Enviar um comentário